O alarme soou. Vespa que pode destruir castanheiros detectada em Trás-os-Montes
29-04-2015| RÁDIO RENASCENÇA
Foram notificados dois casos desta praga, um em Carrazedo de Montenegro, concelho de Valpaços, e outro, por confirmar, em Bragança. Os focos foram detectados em novas plantações, feitas no inverno, de castanheiros híbridos.
Os produtores transmontanos de castanha estão preocupados com a vespa do castanheiro. A praga foi detectada recentemente na região e, se não for combatida, pode eliminar 70% da produção nos próximos anos.
“Se nós não fizermos nada, em três, quatro anos temos uma redução da produção em Trás-os-Montes que pode atingir os 70%”, diz à Renascença o presidente da Associação Nacional da Castanha, (RefCast), José Gomes Laranjo.
O primeiro foco da vespa do castanheiro (Dryocosmus kuriphilus) foi detectado em Maio, na região de Barcelos. Recentemente, foram notificados dois casos da praga em Trás-os-Montes, um deles confirmado em Carrazedo de Montenegro, concelho de Valpaços, e outro por confirmar em Bragança.
Os focos desta praga foram detectados em novas plantações, feitas este inverno, de castanheiros híbridos, importados “um pouco à margem da lei”, diz Gomes Laranjo, explicando que se trata de “castanheiros que não tinham os passaportes fitossanitários e que, infelizmente, estavam, na maioria, infectados”.
O presidente da RefCast avança ainda que “foram plantados milhares de castanheiros destes e um pouco por toda a região de Trás-os-Montes”.
“É importante que os produtores estejam atentos às novas plantações, detectem os focos de infecção e actuem de imediato, eliminando os galhos infestados”, sublinha o também investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, realçando que existe “uma janela de oportunidade de um mês para actuar” e, se houver “uma acção drástica durante este mês, conseguir-se-á ainda minimizar o impacto desta cultura”.
A região transmontana produz 80% da produção de castanha em Portugal, representando um rendimento anual de cerca de 50 milhões a 60 milhões de euros.
“Descuido muito grande” por parte de todos
Dinis Pereira é produtor em São João da Corveira, no concelho de Valpaços, e manifesta à Renascença a sua preocupação com mais esta praga que está a afectar os soutos.
“Estamos a ver que está tudo em risco de, dentro de dois ou três anos, não termos produção de castanha”, refere o produtor que colhe cerca de 40 toneladas de castanha por ano, considerando que houve “um descuido muito grande” por parte de todos, desde produtores a entidades oficiais.
“A ânsia de meia dúzia de pessoas de ganhar dinheiro fácil acabou por introduzir uma praga que já se esperava, mas que se esperava que não que fosse a tão curto prazo”, afirma o produtor.
Também Ilídio Montez, produtor em Miranda do Douro, está assustado com a nova doença que está a afectar os castanheiros e refere que a grande preocupação de momento é fazer a “detecção, identificação e sensibilização junto de outros produtores”.
O produtor possui 22 hectares de castanheiros, sendo que sete são novas plantações, mas assegura que tem comprado as plantas “em viveiros certificados”, solicitando “sempre o passaporte fitossanitário, porque é uma garantia de que a planta não trará a doença”.
A praga
A praga da vespa do castanheiro tem um ciclo anual e é na altura da Primavera que são visíveis os sintomas na árvore: formam-se galhas, semelhantes aos bogalhos dos carvalhos, que têm as larvas lá dentro. Inicialmente, as galhas são de cor verde-clara, passando a cor rosada. Depois de infectados, os ramos não conseguem dar mais fruto.
Entre meados de Maio e final de Julho saem as vespas. Põem mais ovos, que vão passar o Inverno na árvore, desenvolvendo-se na Primavera seguinte. Desta forma, prejudicam a formação de novos ramos e, consequentemente, a formação dos frutos. Em plantas jovens a praga pode mesmo conduzir à morte.
José Gomes Laranjo avança que estão a ser feitos ensaios a nível da luta biológica contra esta praga, que consiste na introdução nas áreas afectadas de parasitóides, insectos que são capazes de exterminar esta vespa.
A vespa do castanheiro entrou na Europa através da Itália, onde já dizimou uma percentagem significativa da produção.