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Santuários Rupestres

"Santuário" diz-se pela sua relação com o santo. A sua origem, do supino latino "sanctum" (do verbo sancio), indica que é recetor da santidade que lhe comunica a presença de um elemento santificador. É, pois, depositário de uma santidade não própria. Também pode acontecer que essa santidade seja de uma transferência subjetiva: os habitantes daquelas paragens "veem" uma similitude com certas imagens mentais que, para eles, são símbolo de "santidade”, e transmitem-nas.
Santuários são aqueles onde se realizam ritos que, por sua vez, podem constar de cerimónias complexas, pelo que são necessários vários elementos funcionais.
  • Lugar Sagrado de "Santo Albino", Vila Chã de Braciosa

    O lugar sagrado de “Santo Albino”, em Vila Chã da Braciosa, acede-se através de um caminho em terra batida que termina no largo, definido pelos muros de pedra que delimitam os terrenos aí existentes. No lugar, é possível observar a ermida, reconstruída há cerca de 4 anos.
    Esta encontra-se orientada segundo os modelos canónicos, com o altar voltado para nascente e entrada para poente. Apresenta nave única, de planta quadrangular e à entrada foi anexado um vestíbulo de planta retangular. Em 2013, foi realizada uma intervenção arqueológica, que baliza a edificação da capela entre os séculos XVI e XVII.
    “No interior, são visíveis quatro aberturas, construídas no muro Este, sensivelmente centrados no alçado e dispostas em “T”; no muro Sul, apresenta também, um nicho, relativamente centrado. Elemento de maior destaque é a entrada, que consiste num emparedamento redutor da abertura, composta por uma porta, delimitada pelos respetivos elementos construídos (soleira, ombreiras e padieira), ladeada a Sul por uma pequena janela, também emoldurada por quatro lajes e a Norte por uma pequena abertura; a encimar a entrada encontram-se duas lajes toscamente talhadas, por forma a configurarem uma espécie de arco em mitra. O vestíbulo apresenta uma ampla abertura, ladeado respetivamente por duas ombreiras, apresentando a do lado Sul, uma abertura circular; o remate dos muros Norte e Sul é em declive, e no muro Oeste é linear, encimado em cada extremidade por uma mísula. Todo o edifício é revestido a reboco de cal, apresentando no exterior, grafitis gravados no mesmo.” (AMORIM, A., CUNHA, S. e NÓBREGA, T.: 2013).
    O arco é composto por dois blocos graníticos de grandes dimensões, que apresentam na face interna, dois conjuntos de covinhas, interligadas por canais.
    No recinto, é possível averiguar uma pia e covinhas. A pia, no seu bordo Sul, apresenta um rebaixamento semicircular, (assento?) e no comprimento do bordo para oeste, um rebaixamento de alguns centímetros, talvez para encaixe de uma tampa. Serviria esta estrutura para algum tipo de ablução ou purificação. (BENITO DEL REY, L., BERNARDO, H. A., RODRÍGUEZ, M.S.: 2004)
    A Norte da Ermida, acha-se um lagar rupestre escavado na rocha, de provável cronologia tardo-romana ou alti-medieval, reutilizados até aos finais do século XIX, inícios do XX. Nos afloramentos rochosos circundantes, registam-se mais dois lagares rupestres escavados na rocha granítica.
    Santo Albino, bispo da cidade francesa de Angers, entre a segunda metade do séc. V e a primeira do VI, pretendia erradicar o culto pagão e dionisíaco da vida, que no local seria expresso pelo vinho. Seria este o motivo da construção da ermida? A ermida ainda hoje é rodeada de vinhas e alguns olivais.
    Segundo os naturais de Vila Chã, no dia da festa, tocava-se e entoavam-se cânticos com o vinho, em redor da capela.
    Hermínio Bernardo recolheu duas quadras dos cânticos entoados.
     
    “Santo Albino de Vila Chã,
    Quem t’há-de beber o vinho?
    -Tartamão e Quartelaire…
    E também Martinho.
     
    Santo Albino, Santo Albino
    Quem t’há-de beber o vinho?
    -Marisé e Quartelaire…
    E também Martinho"
    AMORIM, A., CUNHA, S. e NÓBREGA, T., Relatório Final Requalificação da Capela de Santo Albino, Vila Chã da Braciosa, Mirando do Douro. Policopiado. 2013.
    BENITO DEL REY, L., BERNARDO, H. A., RODRÍGUEZ, M.S., Santuários Pré-Históricos de Miranda do Douro (Portugal) e no seu entorno Zamora e Salamanca (Espanha). Tipalto – Tipografia do Planalto, Lda, Câmara Municipal de Miranda do Douro. 2004.
    VAZ, Ernesto Albino, Miranda do Douro - Guia do Concelho. Câmara Municipal de Miranda do Douro. Miranda do Douro, 2009.

     

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  • Santuário de "Fraga da Roleda", Ifanes

    O santuário de “Fraga da Rodela“ Ifanes localiza-se a norte da povoação de Ifanes, em propriedade privada, terreno atualmente usado como vacaria. Este pode pertencer à Idade do Ferro. Caracteriza-se por uma estrutura escavada na rocha, afloramento granítico, onde a Nordeste se localizam duas escaleiras. Uma das escaleiras apresenta dois degraus, muito toscos, que permitem aceder, de fora, à plataforma superior da rocha. A outra evidencia degraus bem talhados e que possibilitam a descida até à abertura escavada de forma bi-rectangular (tanque), base do santuário.
    É constituído por um conjunto de entalhes organizados geometricamente. Numa primeira depressão de forma retangular, inserem-se um conjunto de regos que partem de um buraco circular e se orientam para um tanque de forma retangular. Este tanque apresenta um duplo entalhe e na base uma depressão circular. A rodear o conjunto observam-se cortes verticais na rocha, articulados com cortes horizontais. Coloca-se a hipótese de se tratar de um santuário. Hermínio Bernardo defende a tese de um santuário de ajuramentação. “Não descartamos a possibilidade de que se trate de um santuário onde se oferecessem ou consagrassem, à divindade, as mãos direitas dos inimigos vencidos, uma vez amputadas, dada a posição da gravura, em pendente, e o fato de ser precisamente a mão direita, como nos informa Estrabão: «amputam as mãos direitas e consagram-nas como oferendas, aos deuses». Em tal caso, dadas as características da mão insculpida, deve rejeitar-se a hipótese de que as amputassem onde está a reprodução da mão. O mais provável é que as cortassem noutro lugar e, uma vez cortadas, as colocassem sobre o altar para a sua consagração, como oferenda ao deus (ou deuses) correspondente(s)”. (BERNARDO, 2003). A divindade a que o santuário estava afeto era guerreira, segundo este autor. No mesmo livro, o autor “descreve” como se procederia o ritual de iniciação dos neófitos.

     

    BENITO DEL REY, L., BERNARDO, H. A., RODRÍGUEZ, M.S., Santuários Pré-Históricos de Miranda do Douro (Portugal) e no seu entorno Zamora e Salamanca (Espanha). Tipalto – Tipografia do Planalto, Lda, Câmara Municipal de Miranda do Douro. 2004.
    VAZ, Ernesto Albino, Miranda do Douro - Guia do Concelho. Câmara Municipal de Miranda do Douro. Miranda do Douro, 2009.

     

    DOC013 DOC014

  • Santuário de "Penha das Casicas" - Vila Chã de Braciosa

    Este santuário está situado no termo de Vila Chã da Braciosa, no Lameiro do Vale, cerca de 300 metros a Norte da capela de Stª Cruz . O topónimo "Casicas", revela em Portugal, a existência de povoações antigas. Encontram-se cerâmicas proto-históricas na zona o que pode permitir corroborar que o santuário estava no território - âmbito- de um povoado.
    O santuário "Penha das Casicas" é constituído, essencialmente, por três rochas de granito, orientadas a Nascente. A do centro (altar) está bastante trabalhada sobretudo na sua parte frontal. Em cima, de frente apresenta talhado um rebaixo, formando escalão, que constitui uma ara ou altar de sacrifícios. O resto do seu topo é arredondado, a modo de cúpula natural, sem que se observe trabalho algum. À direita do altar apresenta-se, gravado, um petrógllifo, que consta de duas linhas retas convergentes, formando uma espécie de "V" com o Ângulo bem agudo e, com o traço da esquerda, que corre por cima, paralelo ao bordo do frontal do altar. Inclui uma pia subcircular e uma pequena concavidade, na base da rocha do altar. Surgem outras concavidades nas rochas, para as quais é atribuída a possível função de depósito de algum tipo de oferenda, ou unguento, ou líquido, ou cereal… A rocha à esquerda, plana no seu topo e sem líquenes (ação do fogo), serviria para concluir o ritual, com o fogo a consumir a vítima. À direita do altar, surge uma rocha mais baixa e irregular.
    As vitimas sacrificadas seriam de tamanho pequeno, animais, portanto de pequeno porte.
    BENITO DEL REY, L., BERNARDO, H. A., RODRÍGUEZ, M.S., Santuários Pré-Históricos de Miranda do Douro (Portugal) e no seu entorno Zamora e Salamanca (Espanha). Tipalto – Tipografia do Planalto, Lda, Câmara Municipal de Miranda do Douro. 2004.
    VAZ, Ernesto Albino, Miranda do Douro - Guia do Concelho. Câmara Municipal de Miranda do Douro. Miranda do Douro, 2009.

     

    DOC012

  • Santuário de "São João das Arribas" - Aldeia Nova

    No Castro de "São João das Arribas", encontra-se muito espólio arqueológico, entre ele muitas estelas romanas. O castro foi romanizado a partir do século I da nossa era. Hermínio Bernardo (2003: 455 – 468), e em resultado de uma investigação com colegas espanhóis, defende a existência de um santuário no castro. Existem rochas com partes rebaixadas em esquadria, tipo escalão e ambas as rochas/altares estão orientados a Poente. Associa a estas rochas as covinhas circulares existentes em penedos próximos a estas. Agrega, também, a uma destas rochas uma gravura serpentiforme. No que concerne aos escalões nas duas rochas existe de fato uma intenção, um motivo, uma funcionalidade, talvez santuário talvez não, contudo é uma hipótese a considerar e a avaliar através da realização de estudos mais aprofundados.
     
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    Rochas graníticas com cortes trabalhados pelo Homem.

     

    BENITO DEL REY, L., BERNARDO, H. A., RODRÍGUEZ, M.S., (2004): Santuários Pré-Históricos de Miranda do Douro (Portugal) e no seu entorno Zamora e Salamanca (Espanha). Tipalto – Tipografia do Planalto, Lda, Câmara Municipal de Miranda do Douro).