Espanhóis pedem ajuda para travar exploração de urânio junto à fronteira
Os habitantes e ambientalistas de Boada, na província espanhola de Salamanca, estão preocupados com a instalação de um projecto de exploração de urânio na região de Retortillo Villavieja.
“Estamos a falar de um território incluído na Rede Natural 2000, e muito próximo de uma das portas de entrada do Parque Natural do Douro Internacional. O ambiente e a qualidade de vida das populações raianas vão ficar muito prejudicados, caso a exploração mineira avance”, afirma o secretário da plataforma ambiental Stop Uranio, José Sánchez.
Os ambientalistas afirmam que o projecto prevê “uma concentração de resíduos com alto teor de urânio provenientes de toda a Espanha e que serão colocados em contentores ou outras formas de armazenamento” e temem “consequências extremamente negativas para a região”.
“Em caso de ruptura, podem prejudicar a bacia hidrográfica do rio Douro”, denuncia Sánchez, indicando que “há dois cursos de água que atravessam o território onde vai ser instalada a exploração mineira de urânio que vão desaguar no rio Douro, junto ao território de Saucelle (Espanha) e Freixo de Espada a Cinta (Bragança), a jusante da barragem espanhola de Saucelle”.
A instalação mineira conta com Declaração de Impacto Ambiental favorável, aprovada pela Conselharia de Fomento e Meio Ambiente da Junta de Castela e Leão, com data de 08 de Outubro de 2013.
Os ambientalistas e representantes dos municípios espanhóis abrangidos pelo projecto mineiro adiantam que já recorreram para instâncias europeias, por aquele se encontrar em zonas de protecção especial, como a Rede Natura 2000, e apelam agora aos portugueses residentes em zonas fronteiriças próximas para que entrem na luta a fim de travar o projecto.
Juan Matías Garzón, Alcalde de Boada também apela à “união dos territórios transfronteiriços ibéricos” ao mesmo tempo que revela “muita apreensão” em relação ao futuro económico e social do seu território.
“Em vez do nos apresentaram projectos sustentáveis, apresentam-nos projectos como a exploração mineira de urânio, aproveitando-se da crise que o país atravessa”, desabafa.
A apreensão e o apelo espanhol já chegou ao lado de cá da fronteira e foi assunto de discussão na última assembleia-geral do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Duero-Douro.
O presidente da Câmara de Miranda do Douro e da Associação de Municípios Ribeirinhos do Douro, Artur Nunes, afirma que “estamos preocupados em salvaguardar as águas do rio Douro da eventual contaminação por urânio e tememos que a mesma possa trazer implicações para o Norte de Portugal”.
O autarca recorda que já houve algumas “lutas” anteriores travadas por portugueses e espanhóis contra a intenção de construção de uma central nuclear em Sayago (Zamora) e contra a instalação de um cemitério nuclear em Aldeia d' Ávila (Salamanca).