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Escolha de selecção divide corações de lusodescendentes

11 Junho 2016

Os afetos e paixões de muitos lusodescendentes espalhados pela Europa dividem-se durante o campeonato europeu de futebol: uns dizem torcer pelas "Quinas" mas outros preferem outras cores, porque a terra onde vivem fala mais alto.

Michaël e Olivier nasceram em França, têm em comum as raízes familiares portuguesas e a paixão pelos vinhos, mas vão "brindar" por seleções diferentes no Euro.

Micaël Morais é escanção num restaurante com uma estrela Michelin em Paris. Para o Euro, promete continuar a alimentar a "loucura que tem por Portugal" e apoiar as Quinas.

"Nasci em França mas tenho aquela loucura por Portugal. A seleção portuguesa nunca ganhou nada, a França já ganhou duas vezes. Portugal até tem hipóteses porque teve um sorteio fácil e o Ronaldo está em forma", argumenta o lusodescendente de 30 anos, cujos pais trocaram São Pedro da Silva, no concelho de Miranda do Douro, por Paris há muitos anos.

Já o primo, Olivier Morais, vai ser obrigado a assistir aos jogos em Belfast, na Irlanda do Norte, onde é 'barman' num bar de cocktails e diz torcer, em última análise, pela França: "O meu sangue é português mas nasci em França, por isso, sou francês também. Tenho que apoiar a França que era uma grande equipa, agora não é tao boa, mas está a evoluir", considera o lusodescendente de 26 anos, com raízes familiares em Argeriz, no concelho de Valpaços.

Na Alemanha, Alessio dos Santos, 18 anos, admite que é "muito difícil escolher" que equipa apoiar durante o europeu, porque além do pai português, tem mãe italiana e para as suas contas entram sempre três equipas, uma vez que nasceu na Alemanha e vive na cidade de Dortmund.

Ainda assim, reconhece que apoia mais a Itália e Portugal do que a Alemanha "devido à grande presença de jogadores do Bayern de Munique na equipa alemã", um sujeitos "um pouco arrogantes".

À parte dos gracejos, Alessio acredita que "crescer com a língua e cultura de um país influencia a forma como cada um se sente, e como sente a sua nacionalidade" e que o futebol ajuda a dar corpo a esses sentimentos.

Já Matthias Fluhr, 19 anos, que tem mãe portuguesa e pai alemão, sente-se "muito dividido" quando Portugal joga contra a Alemanha, mas torce "um pouco mais" pelo país onde vive. "Vejo muito a Bundesliga e não vejo a Primeira liga portuguesa", justifica-se.

Chiara, 14 anos, nasceu na Alemanha, tem nome italiano, mãe portuguesa, pai camaronense, mas, no europeu de futebol, apoia "normalmente" Portugal: "Sinto-me mais portuguesa em altura de campeonatos. Gosto mais da equipa e do país, gosto mais de Portugal. É diferente. Não queria viver lá mas, para mim, é muito bonito. Quero ir sempre lá", justifica.

O apoio a Portugal foi mais amargo durante o mundial de 2014, quando se "irritou" com a sua turma no jogo entre a Alemanha e Portugal: "a minha classe inteira insultou o Pepe [expulso na partida] e irritei-me uns dias e não falei com eles. Não sei porquê, normalmente está tudo bem".

Com um ano Rafael Alves Figueiredo trocou Portugal por Bruxelas, onde irá acompanhar o próximo Europeu de futebol, pela televisão, porque o trabalho num restaurante português não o deixa viajar até à vizinha França.

O jovem tem várias camisolas da seleção portuguesa, com a maior parte a apresentar o número 07 de Cristiano Ronaldo, e promete usá-las este mês, mas confessa à Lusa a sua divisão enquanto fã. É que a Bélgica também o faz vibrar.

"Apoio Portugal antes de tudo. Acho que este ano podemos ir longe! Mas claro, que também apoio a Bélgica. O pior cenário era Portugal passar à fase de grupos e cair contra a Bélgica logo a seguir. Se for o caso que ganhe o melhor!", diz o jovem, de 22 anos, visivelmente dividido nas emoções.

No Reino Unido, nasceram dois primos, Francisco Vaz e Diogo Barbosa, filhos de portugueses, emigrantes há muito.

Francisco, de oito anos, justifica com o facto de ter crescido no reino de Isabel II para fazer claque pelos "três leões": "Vou apoiar Inglaterra porque nasci aqui. Não apoio Portugal", diz, sem hesitar e num português correto e sem sotaque.

O primo mais velho Diogo, de 17 anos, deita um olhar condescendente e diz, também em português, que irá apoiar a equipa do país dos pais e de Cristiano Ronaldo: "Sempre gostei de Portugal".

O pai de Francisco encolhe os ombros, deixando ao filho a decisão e confiante de que o influenciou no essencial: ambos são benfiquistas.

Agora, falta ver o que vale Portugal no Europeu. Micaël Morais quer servir no dia da final uma das suas especialidades de sucesso em Paris: o cocktail "a Portuguesa" feito a partir de vinho do Porto, pimenta vermelha, bagas de zimbro, cravos-da-Índia, licor Chartreuse e espumante rosé.

http://www.dnoticias.pt/actualidade/desporto/593241-escolha-de-seleccao-divide-coracoes-de-lusodescendentes