Berrões
Com o nome popular de berrões em Portugal e verracos em Espanha, conhecem-se um conjunto de esculturas da Idade do Ferro e da época romana que representam, sob forma tosca, porcos, touros e javalis. Estas esculturas são realizadas em rocha granítica e expressam sempre o caráter de macho da peça esculpida. Apresentam os órgãos sexuais bem demarcados, as patas paralelas, diferentes tamanhos e estilos, assim como cronologias. A barreira cronológica, algo controversa, é estabelecida entre os séculos V-IV a. C e o II d. C.
Em termos territoriais, a sua área fulcral é estabelecida na Meseta Ocidental, Ávila e Salamanca, onde habitavam os vetões. Surgem exemplares em Trás-os-Montes e na Beira Alta, em territórios de Zoelas e de Lusitanos, achados isoladamente ou em conjunto. Destacam-se os identificados em Picote, Miranda do Douro.
Uns são de grandes dimensões, como o exemplar de Picote, encontrado, in situ, no centro de uma estrutura identificada como santuário. Outros, de menor dimensão, têm sido identificados quer em contextos habitacionais, quer em funerários, como o célebre touro de Malhadas, achado numa área de grande densidade de estelas funerárias, que, com um rigor formal de grande realismo, antecipa os melhores exemplares de pura raça bovina mirandesa.
A estas esculturas zoomórficas são atribuídas várias funcionalidades: guardadores de túmulos, divindades tutelares de castros e marcadores territoriais (proteção de gados e pastos).
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Berrão de Picote
Em Picote já foram identificados vários berrões, sendo o mais conhecido o que se encontra num pedestal, no centro da aldeia. Este foi identificado pelo arqueólogo Santos Júnior, aquando da realização de sondagens arqueológicas na Cortinha do Puio, em 1952. Nesta intervenção, Santos Júnior, concluiu que esta escultura zoomórfica se achava no interior de um recinto circular com um corredor, estrutura edificada em pedra. Este berrão (suíno) ficou muito conhecido no mundo arqueológico por ter sido encontrado in situ, no seu contexto primitivo.
Outros fragmentos de berrões foram identificados em Picote, um surgiu em 1955, também identificado pelo arqueólogo Santos Júnior. Em 2005, no decorrer de obras de demolição de um edifício, no sítio da Fontósia, foi exumado mais um berrão (suíno). E, em 2017, é identificado, no sítio de Tombar, a parte dianteira de um berrão bovídeo - primeiro exemplar identificado em Picote.ALVES, Francisco Manuel, Memórias Arqueológico - Históricas do Distrito de Bragança. 2.ª edição. Vol. IX. Bragança. Tipografia Académica, 1970.
ÁLVAREZ-SANCHÍS, J. R., Los Vettones, Biblioteca archeologica Hispana, 1, Real Academia de la Historia, Madrid, 1999. CAMPOS, N. e SALGADO, M. (2018): Novo achado arqueológico zoomórfico em Picote (Miranda do Douro). Jornal Nordeste, 17.07.2018.
MARCOS, Domingos dos Santos, Catálogo dos monumentos e sítios arqueológicos do Planalto Mirandês (Romanização). Brigantia, 18:1-2, p. 2-111, Bragança, 1998.
REDENTOR, A. e PEREIRA, L., Uma nova escultura zoomórfica proto-histórica em Picote (Miranda do Douro). In Terra de Miranda, Revista do Centro de Estudos António Maria Mourinho, Miranda do Douro, Greca Artes Gráficas, 2007.
VAZ, Ernesto Albino, Miranda do Douro - Guia do Concelho. Câmara Municipal de Miranda do Douro. Miranda do Douro, 2009. -
O Touro de Malhadas
Escultura zoomorfa, touro. Cabeça bem esculpida, patas dianteiras e traseiras bem delimitadas, rabo atirado para o lado esquerdo por cima do dorso. Terá cerca de 60 cm de comprimento e 40 a 50 cm de altura.
ALVES, Francisco Manuel, Memórias Arqueológico - Históricas do Distrito de Bragança. 2.ª edição. Vol. IX. Bragança. Tipografia Académica.
MARCOS, Domingos dos Santos, Catálogo dos monumentos e sítios arqueológicos do Planalto Mirandês (Romanização). Brigantia, 18:1-2, p. 2-111, Bragança, 1998.
TRANOY, Alain, la Galice Romaine. Paris. Diffusion de Boccard, 1980.
VAZ, Ernesto Albino, Miranda do Douro - Guia do Concelho. Câmara Municipal de Miranda do Douro. Miranda do Douro, 2009.