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Pauliteiros

Na Terra de Miranda e em todo o Planalto Mirandês ainda hoje se celebram com bastante pureza no seu ritualismo original, as festas solsticiais de Inverno. São rituais de profundo significado mitológico, ritos de iniciação, “mitos do eterno retorno” cuja origem teremos que procurar muito longe no tempo.
A origem da dança dos Pauliteiros não reúne consenso entre os estudiosos que sobre ela se debruçaram. Esta terá nascido durante a idade do ferro, na Transilvânia, espalhando-se posteriormente pela Europa.
Strabão, refere que certos povos que habitaram na península no século III se preparavam para os combates com este tipo de danças, trocando apenas as espadas pelos paus de 45 cm, evitando riscos desnecessários.
Posteriormente, os povos conservaram estas danças para celebrarem a recolha dos frutos e dos cereais, assim como a passagem dos solstícios de Verão e Inverno.
Alguns autores, tal como o Abade de Baçal, defendem que a sua origem se deve à clássica dança pírrica guerreira por excelência dos Gregos. Este vê poucas diferenças entre esta dança e a dança dos Pauliteiros tais como a substituição das túnicas pelas saias, o escudo pelo lenço sobre os ombros, os chapéus enfeitados e a utilização da flauta pastoril. Mas a dança dos paulitos manifesta também vestígios de danças populares do sul de França e na dança das espadas dos Suíços na idade média. Os romanos seriam os responsáveis pela propagação da dança pírrica a esta região.
Por outro lado, alguns investigadores como o Dr. José Leite de Vasconcelos contrapõem esta teoria justificando que a dança introduzida em Roma e depois espalhada pelo império, nada tinha em comum com a dança pírrica. Nesta, os dançantes, com armas e escudos de pau, simulavam o ataque e a defesa na batalha, usavam túnicas vermelhas, cinturões guarnecidos de aço e os capacetes dos músicos eram emplumados e os bailadores colocavam-se em duas filas e dançavam ao som de flauta. Na dança dos Paulitos, os dançadores com armas e escudos de paus, também simulam o ataque e a defesa na batalha mas usam diferentes trajos, que correspondem à natureza das danças guerreiras – trajes militares constituídos por: enáguas brancas, camisas de linho brancas, coletes com lenços coloridos sobrepostos e chapéus negros com flores coloridas.
Assim, estas danças mantiveram-se no paganismo até ao século X, quando a igreja católica as começou a admirar nas festas dos santos (que correspondiam às épocas solsticiais) passando-se a celebrar as colheitas com as festas dos santos padroeiros.
A própria evolução da dança, parece ter muitas semelhanças com as danças pírricas tais como: perseguição, luta, saltos e a dança da vitória. Algumas das mais famosas danças retratam bem essas semelhanças como seja o Salto do Castelo (saltos) e o Vinte Cinco de Roda (dança da vitória), entre outras.
Em Espanha, a “danza de palos”, é dançada da Galiza à Extremadura. Segundo o folclorista e musicólogo espanhol Dr. Garcia Matos teria origem na dança da fertilidade. Outros autores espanhóis dizem que a dança é de origem medieval.
O saudoso Dr. Padre Mourinho concluiu que: trata-se de uma dança comum à Península Ibérica; que há nela tradições militares dos povos autóctones, dos greco-romanos, medievais e outras; embora possa ter existido anteriormente terá vindo com os repovoadores do reino de Leão.

Quem são os pauliteiros?

Ao contrário do que poderá parecer, os Pauliteiros de Miranda não são um grupo originário da cidade de Miranda, mas vários grupos de aldeias circundantes, pertencentes ao concelho de Miranda Do Douro (apesar de atualmente, já existir um Grupo de Pauliteiros na Cidade de Miranda do Douro). Os Pauliteiros tomam um lugar especial nas pequenas aldeias circundantes do concelho de Miranda do Douro: constituem-se exclusivamente de homens (atualmente já existem grupos de pauliteiras), que vestem um costume bem diferente dos outros ranchos e a coreografia complexa com os paulitos e castanholas que despertam a nossa atenção.

Assim, tradicionalmente, os Pauliteiros:

  • São um grupo constituído exclusivamente de 8 rapazes e três músicos (gaita de foles, caixa e bombo).
  • Executam o peditório da forma antiga, começando às 6.00 da manhã, após a alvorada dos gaiteiros dançando alguns lhaços em frente às igrejas e capelas, rezam em frente às casas que estão de luto, etc.
Ver dançar os Pauliteiros é sempre um espetáculo a não perder, quer seja em frente à Igreja depois da missa da festa religiosa local, quer seja fora. Assim os principais elementos deste espetáculo são:
Exibição do repertório segundo um crescimento do espetáculo começando com o lhaço 25 (lhaço para partir os paus), a Bicha (em que se utilizam exclusivamente as castanholas) e o Salto do Castelo (na qual um pauliteiro salta por cima de uma torre humana).
Os abraços dados entre os dançadores no fim de cada atuação.
Os lhaços Ofícios e Salto do Castelo que são imediatamente associados aos Pauliteiros de Miranda pelos Portugueses em geral. Lhaços que incluem uma coreografia teatral: Lhiêbre, Senhor Mio, China ou Caballero.
O figurante na capa de honras e o portador da bandeira que acompanham os Pauliteiros nas suas atuações.
A iniciativa da recuperação de grupos é frequentemente tomada por antigos Pauliteiros, músicos ou emigrantes e a principal motivação dos dançadores é o convívio.

Música

Os instrumentos musicais tiveram e têm ainda um lugar muito importante na tradição da Terra de Miranda, como focos irradiadores de animação e fonte de prazer para quem os escuta e executa.

Os instrumentos que mais rapidamente identificam a tradição musical mirandesa são a gaita de foles, caixa e bombo pelo acompanhamento que fazem à dança dos pauliteiros, no entanto não se esgotam aqui os instrumentos musicais mirandeses.

A flauta pastoril que faz conjunto com o tamboril, está hoje um pouco afastada do acompanhamento aos pauliteiros, usa-se mais no acompanhamento vocal e às danças mistas. O seu aspeto simples com três orifícios esconde a complexidade de interpretação desse instrumento em que o músico faz a melodia com uma mão e toca no tamboril com a outra.

Para o acompanhamento vocal eram muitas vezes usados os pandeiros, pandeiretas, conchas de Santiago, triângulos, castanholas e pequenos objetos que as pessoas usavam no dia-a-dia, como a saranda, garrafas, testos de panelas, tachos…

Quase tudo o que se vestia e comia era criado pelas próprias pessoas o que dava uma grande autonomia a esta região, na música era exatamente a mesma coisa cada músico habilidoso construía o seu próprio instrumento à exceção de “rigalejos” ou “harmónicos".

Os artesãos que de seguida enumeramos não fazem da construção de instrumentos musicais um modo de vida, até porque tradicionalmente cada gaiteiro fazia o seu próprio instrumento e por isso raramente houve algum Luthier nas Terras de Miranda.