A capa de honras está viva e merece um desfile
2016/02/24
A Câmara de Miranda do Douro iniciou um processo de “valorização” da capa de honras mirandesa, peça “única” do vestuário tradicional português e ainda em uso no concelho mirandês, realizando, no dia 19 de março, a segunda edição de “Exaltação da Capa de Honras Mirandesa”.
Para o evento, marcado para as 10:30, no Largo D. João III, portugueses e espanhóis são convidados a desfilar pela cidade, envergando as respetivas capas de honras, “para se perceber o número de capas existentes e a sua antiguidade”, revela a autarquia de Miranda do Douro. O objetivo da iniciativa é preservar e recuperar este património, associando-o também às regiões espanholas de Aliste e Zamora.
Ao certo não se sabe quantas capas de honras mirandesa existem. Há quem diga que “não é possível determinar o número”. Certo é que, como lembra a Câmara Municipal,”muitos exemplares transitaram de geração em geração, assumindo-se como um valor familiar de relevante importância”.
Segundo o investigador António Rodrigues Mourinho, a capa de honras mirandesa tem origem na região espanhola de Leão, remontando aos séculos IX ou X, tendo surgido da ‘capa de chiba’ que, traduzido do espanhol para português, quer dizer ‘capa de cabra’.
Apenas dois documentos conhecidos, datados de 1819 e 1828, se referem a esta peça sui generis, feita de pura lá de ovelha (burel). Há também quem defenda que a capa de honras mirandesa poderá ter origem na capa pluvial de Arperjes, usada nos mosteiros das Terras de Leão, em Espanha.
Um trabalho minucioso
O traje não tem o uso de outros tempos, mas mantém o simbolismo. As capas de honra chamam a atenção pelo nome e feitio, num trabalho minucioso, à medida de quem veste. Feitas em burel, são uma das peças mais antigas e dispendiosas do vestuário português, podendo custar 600 euros. As pessoas importantes deram “honra” à capa, que, inicialmente, era apenas de gente rica. O nome provém, igualmente, do facto de ser uma peça de vestuário muito trabalhada
Com o tempo, passou a ser usada por pastores e lavradores de Miranda do Douro, para se protegerem das intempéries, numa região onde há “há nove meses de inverno e três de inferno”, diz o ditado. O traje foi concebido simples, austero, mas belo. A lã é fiada, tecida e pisada. Cada capa leva dez metros de burel e dois meses a ficar pronta.
Noutro tempo, o labor do alfaiate era compensado em géneros ou jornas. Atualmente, a capa é apenas utilizada em cerimónias protocolares ou atos de importância relevante, embora seja usual oferecer uma capa de honras a pessoas distintas que visitam o município de Miranda do Douro.
As inscriçõespara participar no evento devem ser feitas através do email cultura@cm-mdouro.pt ou no Balcão Único da Câmara Municipal de Miranda do Douro até ao dia 14 de março.